quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A REINVENÇÃO DOS TERRITÓRIOS: A EXPERIÊNCIA LATINO-AMERICANA E CARIBENHA (p.151-197)

Carlos Walter Porto-Gonçalves

Resenha

Carlos Walter através do seu texto aborda a questão da territorialidade na América Latina e Caribe, analisando até os dias atuais, os processos que redefinem a geografia nestes espaços. Também se salienta quanto ao fato que impulsionou o desenvolvimento do Imperialismo, a necessidade de se obter formas para o alcance da paz social, tendo em vista que com a aquisição de novas terras seria possível colocar o excesso da população nos novos territórios, e com isto, comercializar novos produtos das fábricas e movimentar as riquezas exploradas das minas. Explicita-se que com a constituição do sistema-mundo moderno-colonial iniciada em 1942 os novos horizontes geográficos passaram a se mundializar, conformando então, as novas territorialidades.

A partir do momento em que houve o contato com as terras que se denominaria “América”, grandes mudanças foram ocorrendo no mundo, pois com isto foi se formando um novo mundo, o mundo moderno, o mundo marcado pelos traços do colonialismo, que somente a partir deste contato nasceria o eurocentrismo. A América já nasceu moderna, numa modernidade que até a atualidade mostra as suas características de servidão às superpotências mundiais, em especial às européias. Afinal, não há grande diferença na forma de produção de soja através do agronegócio e a produção de açúcar que se fazia durante os primeiros passos da “criança latino-americana”.

Vale salientar que com a segunda modernidade, pós-século XVIII, o mundo novamente passa por algumas transformações, desta vez países da Europa Norte Ocidental (ingleses, franceses e holandeses) disputariam parte da América, mais precisamente o EUA e o Canadá. Porém, os Estados Unidos da América inauguraria a primeira vitória contra as garras da dominação colonialista, culminando então com a vitória contra a dominação inglesa (1766). Contudo, ficou evidente que as palavras na qual defendiam a instauração da liberdade, fraternidade e igualdade não valiam para todas as pessoas dentro do território estadunidense, nem tão pouco fora dele.

No século XIX, a América para os americanos já se mostrava ser incoerente com a América para os Américanos de Simon Bolíver e San Martin. De um lado brancos elitistas do Norte e do outro o indigenato, os afro-descendentes, os camponeses e homens brancos pobres do Sul que ficaram numa situação injusta devido a concentração de terra pelas elites. Neste contexto, vale ressaltar a evidente situação em que a sociedade esta exposta, pois ela e o território ao qual fazem parte são indissociáveis, pois a sociedade é espaço, e os homens são constituídos a partir dos espaços ao qual fazem parte. Sociedade sem espaço logo será sociedade pobre.

Os conflitos sociais na América Latina e no Caribe são marcados pela luta por uma descentralização de poder, devido a concentração de bens nas mãos de uma minoria oriunda, na maioria das vezes, da classe elitista externa, muitas vezes das potências mundiais que tentam dominar os países subdesenvolvidos da América Latina. As etnias originárias das regiões são marcadas pelas más condições de vida, que são impostas a elas, o genocídio e o etnocídio são eminentes, impondo o isolamento e a tentativa de fragilizar as suas mobilizações pela igualdade. Um exemplo de grupos que se mobilizam para uma melhor distribuição de renda é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra/MST no Brasil, considerado hoje um dos mais importantes movimentos sociais da América Latina. Estes grupos lutam para erradicação da imoralidade, pois devido à falta de políticas públicas que viabilizem o alcance à igualdade, é facilitada aos políticos e grandes empresários a posse de fazendas absurdamente grandes, propriedades de 5.000, 10.000 hectares por exemplo. É muita terra! É muita injustiça!

No Brasil, facilmente se percebe que aqueles que eram pra colaborar para melhorar as condições de vida da população, acabam concentrando a maior parte das riquezas em suas mãos. O povo vive ainda a ilusão que aqueles que recebem os seus votos iram lhes ajudar a melhorar de vida. Ordem e Progresso para o Brasil? Só se for para os bolsos deles, neste doente Brasil de politicagens.

Nas tensões de territorialidade que existe, fica cada vez mais nítido que o coletivo/comunitário se coloca quase sempre de forma impotente frente à exclusividade da propriedade privada, que sendo espaço exclusivo, já deixa de fora do seu usufruto a grande massa que não tem acesso a terra, à sua justa propriedade privada. Devido a essa falta de espaço nos espaços rurais, mais intensamente em meados do século XX, uma grande quantidade de pessoas acabou se locomovendo para as cidades, desenvolvendo com isto, as grandes áreas de sub-urbanização. Outro fator relevante, no tocante ao sistema-mundo moderno-colonial que comanda as relações sociais no bojo da população americana é a emigração daquela população que não encontra oportunidades em seus territórios nacionais devido às políticas públicas que os expulsam e que acabam impulsionando-os a recorrerem a países desenvolvidos, para tentar estabelecer melhores condições de vida para eles mesmos e seus parentes que ficam nos países de origem, proporcionando, portanto, uma injeção de moedas estrangeiras nos países subdesenvolvidos.

Contudo, é notória que a resposta devida para a grande quantidade de políticas públicas excludentes, é a instauração de políticas públicas humanas, que atendam não somente uma pequena parcela populacional, mas que promova com rigor a efetiva descentralização das riquezas naturais na mão dos ditos “exemplos de vida”, para que com isto o etnocídio, genocídio e ecocídio se reduzam apenas à memória de um povo que sofreu num mundo “do passado” quase que inacreditável.